
No outro dia lia numa revista - que na vida de um surfista era importante, pelo menos uma vez na vida, vestir uma lycra de competição e fazer um par de heats. Pessoalmente já tenho isso tratado. Mas será isso realmente relevante?

Nos outros desportos a participação desportiva não é essencial. Podemos até nem gostar de futebol como jogo competitivo, mas podemos gostar de jogar com os amigos. Podemos gostar de artes marciais e nunca fazer um combate numa competição. Mas será que isso é bom para estes desportos? Será que isso é bom para o surf?
Há muito boa gente que se queixa da fraca força que o surf tem nos meios de comunicação social. Ou que esses mesmos meios só dão atenção ao futebol e nada mais. Mas para que um desporto evolua naturalmente, para que um desporto tenha a atenção que poucos desportos têm, como o futebol ou o ciclismo, é necessário o interesse pela competição, e não só pratica-la. O volei é a segunda modalidade mais praticada em Portugal, mas a visibilidade é menor que o futsal, que o basket e de que o hóquei em patins. Para que a modalidade ganhe visibilidade é necessário que o desporto em causa tenha adeptos. Tenha gente a ver, gente pronta a pagar para ver, gente que seja visível para que possa haver interesse em evoluir o desporto em patrocinadores e atenção dos media. O volei não tem, os outros têm mais.
No surf não é diferente. É necessário encher as praias, como acontece noutros países, ou como aconteceu em Portugal quando o Saca ganhou o WQS na Ericeira. Que haja gente interessada, que haja mobilização. Vestir uma lycra é o inicio de um processo de precepção. Precepção de algo que é necessário para o nosso desporto. Entender que o nosso desporto vai evoluir, interessa saber se queremos participar nessa evolução ou ficar de braços cruzados a queixarmo-nos do preço das pranchas, dos fatos, do crowd descontrolado e sem maneiras, da destruição de sítios importantes para o surf, etc... a competição é um meio para transformar a cultura do surf. O seu meio mais visível e importante.
Mais uma razão para um WCT nos coxos? Não quero parecer insistente...
Miguel Bordalo